quinta-feira, 15 de abril de 2010

Christiano Rocha – Ritmismo – Entrevista Parte II

A corda do seu violão quebrou? A baqueta virtual a data expirou? Não há problemas…





Aproveitem a segunda parte da entrevista com Christiano Rocha, recheada de boas informações e leque aberto de influências…





Abrs!

-- Qual o set que você usou? Quais pratos, caixa… Como foi a escolha da caixa e do respectivo som para o disco?

Como a primeira gravação é de 1996 e a última é de 2006, os kits variaram bastante. Boa parte das faixas foi gravada com minha DW Collector’s Series (maple), medidas 10” , 12” , 14” , 16” , bumbo de 20” x 18” e várias caixas, inclusive minha predileta, uma Pearl modelo Steve Ferrone, de 14” x 6 ½”. Usei também uma caixa Pearl free floating de 14” x 6 ½”, uma DW de 5” , uma de 12” da Mapex e uma soprano que peguei emprestada com o Giba. Voltando às baterias, também usei uma Ludwig, que não tenho o hábito de usar, mas era o que tinha no estúdio em que gravei uma das faixas, em Nova York. Usei também uma Yamaha 9000, mas depois que comprei a DW me desfiz dela, apesar de achá-la uma excelente bateria. Minhas referências de som de bateria fogem da linha que vem sendo seguida, que é aquela linha vintage, meio jazzy, que acho bacana também, mas não é “meu som”. Gosto do som de bateria do Teo Lima, do Carlos Bala, do Carlos Vega (principalmente no disco GRP Live in Session), do Simon Phillips (que acho que é o melhor som de bateria atualmente) e também do som de bateria do Vinnie Colaiuta naquele vídeo Zildjian Day in New York. Enfim, gosto de tambores que cantam e pratos com um release controlado e com certo brilho, tipo os K Brilliant. Pratos foram vários. Rides, crashes, splashes, chinas, bells, chimbais. Usei Sabian (HH), Zildjian (A Custom, K e Avedis), Istanbul Mehmet, Paiste, e outros sem marca, que são “péssimos”, baratos e vagabundos, mas que adoro e não os vendo por nada!
Quanto a escolher o “som para o disco”, fui mostrando algumas referências (discos, no caso) para os produtores Cláudio Machado e Adonias Júnior (este último mixou e masterizou o CD), coisa que aprendi com meu amigo Zezo Ribeiro quando trabalhávamos em seu CD Flamencando , que considero um disco belíssimo e atemporal. Na verdade, a equação é simples: captação não funciona para arrumar problema de timbragem – seja devido a “mão” do cara que tocou (ou “não” tocou) ou ao instrumento utilizado; mixagem não é para arrumar problema de captação; masterização não é para arrumar problema de mixagem. Moral da história: se você tirar som do instrumento, o instrumento for bom (bem afinado, com peles novas, sem parafuso solto etc.), a captação for boa (sala, mics e prés de qualidade) a mix e a masterização forem feitas com uma pessoa de confiança, não tem como o disco soar mal. Claro que também entra a parte conceitual e artística, mas aí é outra história.

-- Quais as influências mais marcantes que você e os músicos que gravaram o disco tiveram e projetaram para o mesmo? Foi algo antes de tudo pensado, ou muita coisa surgiu durante as gravações? Quem gravou com você as faixas?

Chamei os músicos que chamei porque queria o som deles, mas se você ouvir o disco provavelmente notará de antemão as referências, influências e “cópias” (de minha parte, no caso), que são claras. Algumas até vindas de outras formas de arte, como o cinema, como é o caso da introdução da primeira faixa, totalmente Blade Runner, feita pelo Emílio Mendonça (tecladista). Ritmismo é um CD meio contemplativo, bom para ser ouvido numa viagem de carro, por exemplo. Posso citar várias referências, minhas e dos músicos dos quais tocaram no disco: Pat Metheny; Lyle Mays; Vinnie Colaiuta; Steve Winwood; Frank Zappa; Joe Zawinul; Manu Katché; Bill Frisell; Rubén Blades (disco Mundo); Arthur Maia (que tocou no CD); os overdubs do Paul Wertico no disco First Circle do Pat Metheny Group; Cama de Gato; Allan Holdsworth; Hermeto Pascoal; Teco Cardoso (que tocou no disco); Dori Caymmi; Zezo Ribeiro (que tocou no disco); Olmir Stocker (“Alemão”); Paulinho da Costa; Carlos Bala; Pascoal Meirelles; Hélio Delmiro; Tania Maria; o samba jazz carioca; Milton Banana; Rubinho Barsotti; David Garibaldi; Rique Pantoja; Cesar Camargo Mariano; Giba Favery (que participou da faixa “Gaia”); Zonazul; Michel Freidenson (que tocou no disco); Teo Lima; Batacotô; Paulinho Vieira (um baterista sensacional, grande influência que tenho, que mora em Ribeirão Preto ); a música do Oriente Médio; as bandas desenhas do português José Carlos Fernandes; Ivan Lins; Milton Nascimento; Renato Consorte (que tem um belo trabalho instrumental e que tocou no disco); o jequibau de Ciro Pereira e Mário Albanese; Max Roach; Terry Bozzio; Steve Smith; lounge; Trilok Gurtu; Maria João; Anggun; Jean Luc Ponty; Steely Dan; Chroma; Elements (Danny Gottlieb e Mark Egan); Bobby McFerrin (disco Bang!Zoom); Miles Davis; Tony Williams; Michael Brecker; Dave Brubeck; Jeff “Tain” Watts; Herbie Hancock; Mike Stern (o disco Voices é uma grande referência que carrego comigo); The Players; Steps Ahead; André Geraissati (que tocou no disco) e seus discos Next e DADGAD; Steve Gadd; Jeff Porcaro; Stewart Copeland; The Police; Sting; Luiz Gonzaga; Azael Rodrigues; Ronaldo Basbaum; Flávio Venturini; 14 Bis; Wander Taffo; Toto; Mike Porcaro; Phil Collins; Gino Vannelli; Michael Sembello; Alejandro Sanz; Alfredo Paixão; Van Halen; Journey; Deen Castronovo; o disco American Garage, do Pat; as frases de prato do Terry Bozzio (se ele ouvir o disco, me processa!); Steve Lukather; Los Lobotomys; Simon Phillips; Torcuato Mariano (que tocou no disco), e que gravou um disco que adoro, Atelier; Dennis Chambers; Mike Clark; Jeff Beck; Arismar do Espírito Santo; o maracatu e os espetáculos populares de Pernambuco; Marcus Miller; Ronny Jordan; música flamenca (buleria, martinete etc.); Paco de Lucia; Vicente Amigo; Chano Dominguez; a Guernica, de Picasso; Mario Boffa Jr (que está no CD); James Brown; Maxwell; EWF; Screaming Headless Torsos; Omar Hakim; Renato “Massa” Calmon; John Patitucci (que tocou no disco); Mozart Mello (que também tocou no disco); as trilhas do Jeff Beal etc. Isso sem falar na influência de todos meus mestres.
O CD contou com a participação de quarenta músicos. Além dos nomes que citei, também participam: Cláudio Machado (costumo dizer que o disco é mais dele do que meu); Adonias Júnior; Adriana Godoy; André Olzon; Celio Barros; Djalma Lima; Edu Ardanuy; Eduardo Queiroz; Eugénia Melo e Castro; Evandro Gracelli; Fábio Augusto; Fábio Luchs; Fábio Santini; Fábio Zaganin; Graça Cunha; Gustavo Martins; José Roberto Gaia (que também assina quatro faixas do disco); Luciano Khatib; Marcelo Pizarro; Márcio Forte; Marcos Romera; Markinhos Tessari; Newton Carneiro; Rubinho Ribeiro; Vitor Alcântara; Walmir Gil e Wanderson Bersani.

-- Como foi misturar as tendências de música progressiva com os ritmos brasileiros? Que outras tendências e influências aparecem no álbum, no seu modo de ver? Algo de música oriental, talvez?

A arte é progressiva. A música, assim como a vida, deve ser progressiva. A música brasileira não é exceção. Ninguém pegou a chave e a jogou fora, portanto, não me preocupo em ter de manter a tradição, apesar de achar muito importante conhecê-la. Detesto ir “by the book”. Não sou muito “certinho”, se é que você me entende. Faço um monte de coisa “errada”, de acordo com os “puristas”. Ótimo!
Quanto a estilos, Ritmismo mistura bastantes elementos, inclusive a música ocidental com a oriental. Essa fusão aconteceu naturalmente, mesmo porque não sou especialista em nada. Apenas adoro música e tenho a sorte de ser chamado para tocar diferentes estilos de música. Também sinto uma enorme necessidade de produzir, que nem sempre é a mesma coisa que trabalhar (afinal, nem todo trabalho, mesmo na música, é produtivo). Acho que o disco reflete tudo isso. Outro estímulo que tive para fazer o disco foi a curiosidade e a constante busca pelo conhecimento, afinal o aprendizado nunca para. Ninguém sabe tudo a ponto de não ter nada a aprender e não sabe nada a ponto de não ter nada a ensinar. Realizar esse projeto foi um grande aprendizado, inclusive no âmbito pessoal. Independente de fusões, buscas e afins, meu objetivo maior é que a música emocione, toque na alma, por isso fiz um disco que eu gostaria de ouvir. Cheguei perto, pois das quatorze faixas, “pulo” apenas três!


-- Qual foi o ritmo que te instigou a começar a tocar e fazer música?
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Rock.
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Vídeos:

http://www.youtube.com/watch?v=WHzlKZVjEhA - Christiano Rocha com Corciolli - Dvd

http://www.youtube.com/watch?v=7Zdsilu0sJ8 - Adriana Godoy e Christiano Rocha - Vento Bravo

http://www.youtube.com/watch?v=aMz9DvrvpTg&feature=related - Christiano Rocha Quarteto - "Armando's Rhumba

Dave Matthews & Tim Reynolds


Mais uma dos irmãos de som Dave Matthews e Tim Reynolds. You & Me, cai bem à união musical dos dois. Tirada do último cd da Dave Matthews Band, You & Me mostra mais uma faceta da engrenagem acústica dos dois...

http://www.youtube.com/watch?v=CX4ddonsbjM

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Michel Leme – Dos “5º”s cds do mercado, este, o 1º, o mais “Novo”

Grata surpresa foi poder ver neste último sábado, a apresentação do grupo do Michel Leme no Bar “Jazz nos Fundos” com Sidmar Vieira (trompete), Alexandre Mihanovich (baixo) e Arismar do Espírito Santo (bateria).… Rolou de tudo nos temas, e principalmente nas improvisações… Minúsculas citações, como Beethoven… Arismar e Michel puxando uma surf music… rs… E uma versão possuída de “Maiden Voyage”…

E pra celebrar tais momentos, segue uma pequena abreviação do último disco de Michel Leme, que nos conta aqui como foi o processo de gravação do cd… Que mais uma vez inova e quebra barreiras, barreiras que os verdadeiros artistas nem sabem que existem, pois passam por elas sem nem mesmo percebê-las e nem aprisionando a si mesmos por elas…
Um dos maiores destaques do cd, não poderia deixar de ser, é a presença contínua de dois bateras tocando ao mesmo tempo!
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Fala aí Michel:
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“5°” é o meu quinto disco lançado de forma independente. Este teve o apoio cultural das marcas: D’Addario, Nux, Rotstage, Playtech, espaço Sagrada Beleza, EM&T e Sho’You (áudio e vídeo).

Quem toca: Bruno Migotto (baixo), Bruno Tessele (bateria e percussão) e Waguinho Vasconcelos (bateria e percussão). O disco traz 6 músicas inéditas e uma faixa bônus (também inédita) em vídeo.

Tivemos duas sessões de gravação. A primeira aconteceu no dia 17 de setembro de 2009, no Estúdio Cantareira e foi captada pelo Ricardo Marui. Essa sessão foi em trio: eu, Migotto e Waguinho.
Valeram duas músicas: “3 Notas” e “Blues de Ocasião”.

Para a segunda sessão, que aconteceu em 30 de Outubro de 2009 no auditório da EM&T, tive a idéia, uma semana antes, de gravar com duas bateras. Aí chamei o Bruno Tessele que já havia tocado esse repertório comigo e o Migotto. O Waguinho e o Tessele não se conheciam até então e, no momento da gravação, eles foram apresentados um ao outro, o que quer dizer que não deu tempo de ensaiar ou planejar nada - o que eu achei ótimo, porque essa música soa mais honesta assim. Para captar e traduzir em som o espírito do momento é necessário que todos ouçam o que está sendo tocado na hora com toda a concentração; isso faz com que ninguém ligue o “piloto automático” e a coisa soe realmente musical. Sinto que o que se ouve nesse disco é algo com esse espírito.
Gravamos todos juntos, valendo, e sem quaisquer correções depois.

A sessão da EM&T foi captada pelo Flávio Tsutsumi e o disco foi mixado e masterizado por ele e por mim. A arte tem fotos da Vanessa Saad e do Flávio Tsutsumi. A letra que se lê no encarte e na capa é a minha e a bela aquarela da capa foi pintada pela amiga e artista plástica Cinthia Crelier – que pintou ouvindo a primeira mix do disco.

As músicas:

“Deixem o Coltrane em Paz” é um ¾ que faz referências a algumas músicas gravadas pelo (cabem aqui mil adjetivos) John Coltrane como “Afro Blue” e “My Favorite Things”. O título veio à minha mente porque em alguns papos de músicos tudo é o Coltrane: Coltrane isso, Coltrane aquilo... Claro que é melhor ter um cara desse como referência do que a Ivete Sangalo... Mas o que incomoda, de fato, são os caras que apenas se escondem atrás de caras como o John Coltrane e outros grandes, ao invés de parar de falar e se concentrar em sua própria música.

“Samba dos Excluídos” é um tema que estava pra sair já faz alguns anos e só se concretizou em 2008. Eu ouvia na mente algo parecido com a melodia da parte A, aí tentei passar a idéia para a guitarra - honestamente, não sei se o fiz fielmente. Mas a idéia, ou pelo menos o caminho da frase que eu tinha na mente, é o que se ouve no CD. O título tem a ver com o seguinte: revolta-me viver num mundo que tem a maioria de sua população como uma multidão de excluídos, totalmente sem perspectivas ou condições mínimas de vida. E o que a mídia (o alto-falante das classes dominantes) faz ao anestesiar as pessoas reduzindo esta enorme tragédia a histórias pessoais, mostrando 01 família que está na miséria em algumas cenas com fundos musicais patéticos, é um dos exemplos da manipulação cuidadosamente pensada para que ninguém sinta a gravidade da situação real. Fiquemos espertos!

“Chica Hermosa” é um chachacha, ritmo o qual eu adoro, porque soa um tanto quanto, eu diria, cafajeste. Faço músicas assim pra tirar uma onda e rir pra cacete, mas acabo tocando-as por aí porque têm uma forma gostosa pra improvisar e uma melodia que fica na mente.

“Aos Poucos” é um tema composto pelo Bruno Migotto. Não sei qual a história dessa composição, mas ela tem a mesma harmonia do “I Got Rhythm” do Gershwin, conhecido pelos músicos como “rhythm changes”. Gostei muito desse tema quando toquei no septeto do Migotto (recomendo ouvir o belo disco recém-lançado dele, o “In Set”) e por isso começamos a tocá-lo nos sons que fizemos por aí antes de gravar. Acho que combinou com a idéia desse trabalho.

3 Notas” tem o andamento mais rápido que já gravei. A estrutura é parecida com a do “So What” do Miles Davis, só com a segunda parte em outro tom. O tema tem 3 notas principais: C, B e A; o restante é improvisado.

“Ananda Moy Ma” foi um tema que nasceu do ímpeto que tive em fazer uma homenagem a essa santa da Índia. O capítulo do livro “Autobiografia de um Iogue” de Paramahansa Yogananda no qual ele conta os encontros que teve com ela (a quem ele descreve “Saturada de Bem-Aventurança”) me inspirou. Essa composição, muito simples, com apenas duas partes, nasceu numa das primeiras transmissões que fizemos na TV Cia da Música, no que viria a ser o programa Michel Leme & Convidados - que ficou no ar de novembro de 2007 a Dezembro de 2009. Nessa ocasião, eu estava tocando com o Digão (bateria) e o Deco (baixo) e o tema aconteceu na hora, ao vivo. Foi um momento muito feliz, sinto-me muito grato. Na gravação do CD, com as duas bateras, rolaram partes que nunca tínhamos tocado, na intro e no final – nada combinado também. Fiquei muito feliz por ter registrado isso, porque ao vivo nunca será igual.

Enfim, convido a todos para que ouçam o “5°” e agradeço pela atenção.
Um grande abraço e muito som pra todos!

Michel Leme
website: http://www.michelleme.com/


http://www.youtube.com/watch?v=sZmi2wgyL9g - Lançamento do cd 5º