terça-feira, 24 de agosto de 2010

Verônica Ferriani – Além das palavras - Levando a música na pele


Que o mundo dá voltas, todo mundo sabe. Fisicamente, e em acontecimentos, verdades, nuances, que mudam a cada instante. Ininterruptamente.
E quando o mundo gira dentro da gente, é porque algo está mudando lá fora também.
A música, exemplo raro de contato com a nossa pele, com o nosso tato, é a transmigração de algo impalpável pra dentro de nós.
Sinta o contato da música e da palpável entrevista com a cantora Verônica Ferriani, exemplo de caminho possível para a música que gira sem perder suas verdadeiras influências. No seu último álbum “Sobre Palavras”, ela destila uma singeleza de canções, parceria que desenvolveu com o compositor Chico Saraiva, e com as palavras do disco assinadas pelo letrista Mauro Aguiar.

-- Compor melodias através de letras foi o principal mote do cd. Como você encarou o processo de interpretação das músicas? A partir de um ponto de vista subjetivo seu sobre as letras de Mauro, ou a partir de alguma pré-definição dele?

O fato de o CD se chamar "Sobre Palavras" realmente dá importância ainda maior as palavras, e uma grande responsabilidade para quem interpreta. Mas na verdade, o cuidado com o texto sempre foi uma intenção minha ao cantar. Acho que quando me escolheram, Chico Saraiva e Mauro Aguiar - que já me conheciam bem - , buscavam justamente alguém que tivesse uma preocupação e um ponto de vista próprio sobre as letras. Parti de algo subjetivo e fui achando minha maneira de ver e sentir aqueles temas. É instintivo.

- Como foi o processo de composição e de arranjo, tanto para os instrumentos como para sua voz?

Chico e Mauro já tinham composto algumas coisas juntos em trabalhos anteriores, mas no primeiro semestre de 2008 Mauro enviou ao Chico um calhamaço de letras, sobre os quais Chico começou a fazer músicas. Em setembro, num show em que cantei com Chico e Francis Hime, Chico me contou o que andava compondo e que gostaria de mostrá-las para quem sabe pensarmos num projeto juntos. Eu estava com meu primeiro disco solo pronto para ser lançado e poderia ser confuso naquele momento; mas quando ouvi, não resisti. Gravamos 3 músicas em novembro e enviamos para o Projeto Pixinguinha (Funarte - MinC). Para nossa alegria, fomos selecionados. A partir daí Chico compôs ainda outras músicas e juntos fomos fazendo um ou outro ajuste, em ensaios voz e violão, sempre debatendo com o Mauro. Das 18 ou 19 compostas, escolhemos 13. Nestes ensaios fomos pensando em pré-arranjos, quais músicos chamar e numa concepção do disco de forma que fosse nosso, não meu ou dele. Isso em janeiro e fevereiro de 2009. Em abril entramos em estúdio com os músicos e começamos a gravar. O disco saiu em setembro de 2009.

-- O que mais te agrada no mundo da música e do samba particularmente? Um samba, uma música brasileira mais intimista como no álbum “Sobre Palavras”, ou a “criatura” sem freio do samba que se impõe na roda e no fervor do ritmo?

Minha maior característica é não me ater a aspectos formais ou gêneros específicos. Gosto do lirismo e do suingue. Do íntimo, do sutil e da catarse. Do sofisticado e do popular. Não gosto de me prender. Gosto de dizer o que sinto que saberei dizer. E vou no que a música me propõe.

-- Você toca algum instrumento? Compõe?

Toco um pouco de violão desde pequena e percussão desde que me apaixonei pelo samba. Composição é algo bem recente, mas está começando a acontecer, sim. Meu próximo disco solo deve ter algumas minhas.

-- Você tem expectativas de flertar por outros estilos musicais? Quais serão seus próximos e imediatos projetos?
Sou aberta ao que me comove e, nesse sentido, tudo pode acontecer. O que ando fazendo são os shows de meus discos: o CD solo, com o qual estou indo para Salvador e interior de SP em setembro, o Sobre Palavras e o disco que gravei com a Gafieira São Paulo em 2008, que está sendo lançado com uma temporada no Tom Jazz, em SP. Também tenho feito shows de projetos comemorativos do centenário de Adoniran Barbosa e Noel Rosa este ano, entre outras coisas. Para o futuro, começo a pensar num próximo disco solo, mas para ficar pronto somente no final de 2011.

-- Se sua música tivesse um cheiro, qual você acha que seria? Você acredita na capacidade sinestésica da música?

Acredito, claro. Música é subjetiva, é magia ampla. Talvez a minha teria um pouco o cheiro de mato do interior, ainda que não seja um som regional. Gosto de cantar olhando no olho e com sorriso no rosto (ou a expressão que for devida), de ser a mesma em cima do palco e na vida cotidiana. Uma coisa com a qual não me identifico com parte da nova geração é que não sou blasé. E creio que isso seja um traço que trago por ser uma garota do interior.


http://www.youtube.com/watch?v=djpujqnI_lA&feature=search – Na Pele- Verônica e Chico Saraiva


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Grupo Pau Brasil e Villa Lobos- Longevidade


A música longeva e duradoura é a música que não pode ser datada. E pra comemorar essa data sem tempo e sem justificativas, deixo a ótima música do grupo instrumental “Pau Brasil”, tracionado por Rodolfo Stroeter no baixo, Paulo Bellinati no violão, Nelson Ayres no piano, Ricardo Mosca na bateria e Taco Cardoso nos saxofones e flauta. Grupo único, de instrumentação e lógicas únicas. Agora explorando o universo de Villa Lobos, o grupo está em uma mini-turnê pelo Brasil tocando e interpretando obras consagradas do compositor eterno brasileiro. É algo raro de se ver. Eu pude exercer essa maleabilidade da alma e poder assisti-los. Se vocês puderem, sugiro que o façam. Acompanham eles nessa escalada um quarteto de cordas que temperam ainda mais o som.


A seguir uma palhinha de um som deles tocando Villa Lobos, mas este é sem o quarteto de cordas..


http://www.youtube.com/watch?v=57Qxi4Hh7Qg&feature=search - Instrumental SESC Brasil - Pau Brasil - Aria da Bachiana nº 4 (Heitor Villa-Lobos) - 24/06/2008