A história da “Música Universal” de Hermeto Pascoal sempre obedeceu aos mesmos princípios: Liberdade, naturalidade, e inexistência de limites, calcando sempre seu som pelo conceito de Boa Música.
E é com esse conceito que foi dada a partida à jornada musical de Hermeto...
O primeiro disco
oficial de Hermeto foi o LP “
Hermeto”, gravado e lançado nos EUA, com a assinatura baterística de
Airto Moreira.
Em 1965, no disco “Em Som Maior”, veio mais uma aparição de Airto Moreira na bateria e percussão. Foi com Airto que os primeiros passos em direção à criação do aclamado conjunto “Quarteto Novo” foram dados. O grupo já existia com o nome de “Trio Novo” antes da entrada de Hermeto. O primeiro e único disco do grupo se chamou “Quarteto Novo” e se deu em 1967 com participações de grandes nomes da música brasileira, como Heraldo do Monte. Foi nesse disco que apareceram as famosas composições de Hermeto, como “O Ovo” e “Canto Geral”. O Quarteto se consagrou por misturar ritmos nordestinos com arranjos jazzísticos, impulsionando a carreira de Airto Moreira como percussionista pelo mundo.
Com o disco
“A Música Livre de Hermeto Paschoal”, de 1973, iniciou-se a trajetória de
Nenê na bateria hermetiana. Gravou dois famosos discos, “
Zabumbê-bum-a” e “
Hermeto Pascoal ao vivo em Montreux”. Nenê, até hoje, é um dos bateristas mais celebrados da música brasileira, por sua identidade, talento, e por ter tocado em discos antológicos junto a artistas renomados como Milton Nascimento e Elis Regina.
Nenê dá seu depoimento sobre o que era tocar com Hermeto: “Para mim, foi superimportante ter participado da vida musical deste excepcional músico. O Hermeto Pascoal foi quem me mostrou os ritmos brasileiros, o que me foi de grande valia. Dos discos que gravei com ele, três deles, 'A música livre de Hermeto Paschoal', o primeiro do Grupo, 'Zá-Bum-Be-Bum-Á' e "Live in Montreux", considero de suma importância para minha carreira. O Hermeto foi um dos meus mestres.”
Zé Eduardo Nazario foi outro importantíssimo baterista brasileiro, que não por acaso, passou pela “escola” de Hermeto. Fez sua estreia no grupo em 1973 e permaneceu até 1977, tocando bateria e p
ercussão e fazendo apresentações memoráveis nesse período. Participou com Hermeto no Festival Abertura da Globo em 1975, onde a composição "O Porco na Festa" obteve o prêmio de melhor arranjo do Festival. Nesse arranjo, Hermeto escreveu uma introdução especialmente para a performance de Zé Eduardo Nazario na então inédita "barraca de percussão", de criação de Zé e mostrada pela primeira vez na televisão brasileira. Zé Nazario comenta sobre seu percurso com o mestre: "
Toquei bateria e percussão com o Hermeto num momento muito especial da nossa história... Foi um grupo que quebrou barreiras até então intransponíveis no que diz respeito à criatividade, inovação, energia e coragem de mostrar ao público um novo caminho para o músico e a música brasileira e mundial, que influenciou a todos, tanto aos mais experientes quanto aos mais jovens, e aos que vieram depois."
Zé também participou do disco "Imira, Tayra, Ipy, Taiguara", onde tocou percussão e bateria. Nos anos pós-hermeto, Zé trabalhou também com Milton Nascimento, John McLaughlin e Joe Zawinul.
Os anos 80 começaram com Alfredo Dias Gomes na bateria do disco “Cérebro Magnético”.
Em 1982, iniciou-se a fase em que
Márcio Bahia assumiu as baquetas, no álbum “
Hermeto Pascoal e Grupo”. Trazendo sua autêntica vibração advinda do seu consistente toque, Márcio conseguiu dar um caráter extremamente preciso e suingado à m
úsica de Hermeto.
Os discos mais essenciais e importantes de Márcio Bahia com Hermeto foram “
Hermeto Pascoal e Grupo” de 1982, “
Só não toca quem não quer” de 1986, e “
Festa dos Deuses” de 1991, que mostraram toda a fluência e dinâmica de Bahia.
Márcio Bahia toca e já tocou com grandes nomes do cenário musical, como: Hamilton de Holanda, Marco Pereira, Vittor Santos, Leny Andrade, Jhonny Alf, Marcos Valle, João Donato, Carlos Lira, Roberto Menescal e Wanda Sá, Joyce, Gilson Peranzetta, João Bosco, Maria Bethania, Leila Pinheiro, Eliane Elias, David Friedman, Thijs Van Leer (Focus), Baden Powell, Toquinho, Ednardo, Fagner, entre outros.
Ajurinã Zwarg completa a série de bateristas que passaram pelas formações de Hermeto. Atualmente, Ajurinã é um dos bateristas de Hermeto Pascoal e Grupo ao lado de Márcio Bahia, que foi um dos responsáveis pela sua iniciação musical na bateria.
Depoimento pessoal de Hermeto sobre seus bateristas
De forma objetiva, e não por isso menos passional, Hermeto comenta sobre todos os bateristas que passaram por sua vida:
“Todos que trabalharam comigo contribuíram muito, com seu jeito pessoal e musical. Por isso, chamo minha música de Música Universal. Não comparo um ao outro, nem cito as características individuais de cada um… As gravações estão aí para cada um ouvir... Tenho um imenso carinho por todos os bateristas que tocaram e tocam comigo.”
Egberto Gismonti e sua turma percussiva
Egberto Gismonti tem uma afinidade muito especial com Hermeto: Multi-instrumentista, compositor e arranjador, ele é dono de uma sensibilidade apurada e vive a música com uma alta dose de experimentalismo, sempre.
E de tal afinidade, já seria normal se esperar que o vértice rítmico de seus grupos fosse comandado pelas baquetas de músicos que também passaram pelas formações de Hermeto.
Cabe destacar aqui no histórico das formações musicais e álbuns de Gismonti, o disco “Sanfona”, com Nenê na batera.
Sobre Egberto, Nenê diz: “O Egberto, dono de uma sonoridade única no piano e de um modo de improvisar totalmente original, além de um senso rítmico muito apurado, me proporcionou uma execução na bateria expressamente aberta e polirrítmica. Dos discos que gravamos, gosto de todos, mas, o disco "Sanfona" é o meu preferido. Violão também é um instrumento em que ele é mestre.”
Além de “Sanfona”, outro grande disco da carreira de Egberto foi “Academia de Danças”, de 1974, com Robertinho Silva na bateria.
Egberto Gismonti, num show, confessou: “Não tenho medo da música”… Negação de um medo, que é sabido e enfrentado pelo músico, sendo acompanhado em sua filosofia por bateras como Robertinho, que desde cedo enfrentou o “medo”, e com sua batida forte, foi se tornando um dos mais requisitados percussionistas e bateristas da música brasileira, tocando com nomes como João Donato, Gilberto Gil, Toninho Horta, Gal Costa, João Bosco, e outros do exterior, como Wayne Shorter, Sarah Vaughan, George Duke, Moacyr Santos, Airto Moreira, Flora Purim, Egberto Gismonti, Ron Carter.
Robertinho ainda lançou, com participações de Egberto Gismonti e Raul de Souza, seu primeiro disco solo em 1981, “Música Brasileira Popular Contemporânea”. Ele, atualmente, está voltado à carreira solo e à pesquisa dos ritmos folclóricos do Brasil.
Colaboraram ainda em discos de Egberto Gismonti o percussionista
Naná Vasconcelos (“
Dança das Cabeças” e “
Duas Vozes”),
Zé Eduardo Nazario (“
Nó Caipira”), e
Airto Moreira.
Cabe finalizar aqui, usando o exemplo de Gismonti e seus bateristas, que a música e a bateria instrumental brasileira estão no ápice de suas formas, se orientando cada vez mais para estruturas complexas, num universo em expansão sonora de texturas e dialetos musicais.
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por caio garrido
Parte desta matéria foi incluída e publicada na edição de março/2011 da Revista Modern Drummer Brasil