sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Vitor Cabral - Sensibilidade e Arrojo


25 de agosto de 2009, terça-feira chuvosa em São Paulo, mas dentro do Auditório do Sesc o que se viu passar durante a apresentação de Roberto Sion e banda no Instrumental Sesc Brasil foi algo quente e revigorante para qualquer humano. Uma grata surpresa foi poder ver e ouvir Vitor Cabral, baterista da banda, junto também ao grande baixista Sidiel Vieira e o consagrado guitarrista Hélio Delmiro.


A banda apresentou famosos temas brazoocas e de jazz, e composições próprias de Roberto Sion. Sion mostrou uma musicalidade absurda em suas improvisações e melodias. Sou suspeito para falar, pois sou baterista, mas um dos principais destaques da noite foi o batera Vitor Cabral com a sua alta perfomance, gosto pela música, comunicação com os músicos e sensibilidade apuradíssima.

Algo que poucos músicos realmente sabem fazer bem, Vitor o faz com propriedade, que é usar todo o seu vocabulário musical a serviço da música, isto é, ele consegue servir a música do conjunto e ao mesmo tempo utilizar seu extenso vocabulário sempre tocando a 100 Km/h, com 100% de uso de sua dimensão musical total.
Foi com ele que se seguiu essa entrevista a seguir:


-- Vitor, gostaria que você me contasse um pouco da sua trajetória e formação musical.

Bem, inicialmente eu comecei meus estudos no piano, quando tinha 8 anos de idade. Entre idas e vindas, troquei pela bateria aos 13, quando comecei a tocar na igreja, já que venho de uma família cristã-protestante. Isso foi, no começo, a minha "escola", e sou muito grato por ter tido essa oportunidade, pois além de ser uma forma bastante didática de começar, é possível se criar um relacionamento com a música um pouco diferente dos demais. Nesta mesma idade, ingressei na Fundação das Artes de São Caetano, uma escola bem conhecida no ABC, mas que eu pouco estudei o instrumento de fato, acho que 1 ano somente, perto do final do curso, mas aprendi muito das matérias consideradas "teóricas" lá, como percepção, apreciação, conceitos básicos de harmonia, contraponto e assim por diante, além de ter contato com outros músicos e ser apresentado à música sob uma outra perspectiva. A partir disso eu fui me lapidando musicalmente, procurando ouvir os mais velhos, mesmo que nem sempre o espírito jovial me permitisse. Tive um recesso musical de alguns anos na minha adolescência por questões financeiras e pessoais, e acabei voltando definitivamente há 2...3 anos, quando ingressei no grupo do trombonista Bocato. De lá prá cá voltei a estudar e agora também a trabalhar somente com música.

- O que você acha que mais contribuiu para sua expressividade e sensibilidade na execução das músicas e comunicação com os músicos no palco?

Sobre a expressividade e sensibilidade, é um pouco difícil "nomear" essas influências, acredito estar no início do processo, no entanto, particularmente posso dizer que o estudo de piano foi um fator fundamental para compreender melhor o contexto e aprender a partir daí a me colocar na música. O exercício de ouvir os grandes músicos e outras opiniões à respeito da música, vai formando um "repertório de idéias", solidificando sua personalidade com o passar dos anos. Agora, sobre a comunicação no palco, acredito, plenamente em como, humanamente, você se relaciona com o outro. Eu entendo o "tocar junto" como uma espécie de comunhão, confraternização e, sendo assim, valorizo muito o relacionamento para além da música que procuro ter com quem toco. Mas confesso que nem sempre toco com pessoas que compartilham desse mesmo espírito.

- Quais são novos nomes da música que você indicaria para ouvir?

De bateristas: Brian Blade, Jamire Willians, Chris Dave, e um brazuca que gosto bastante, Daniel de Paula. Outros: Robert Glasper, Meshell Ndegeocello, Kudu, Kenny Werner, Overtone Quartet, David Binney, Mente Clara e o grupo do baixista Marcos Paiva, chamado MP6 que está fazendo um trabalho de resgate e desenvolvimento do samba-jazz muito bom!

- Antes de se apresentar, como você procura se inspirar? Sente a necessidade de ouvir alguma música em especial, ou apenas ouvir música? Ou você pode passar um dia inteiro sem nem ouvir ou tocar uma nota sequer e entrar no palco e estar disposto e inspirado?

Eu entendo que a idéia é a música ser tão presente na sua vida e sua vida tão presente na música que já não se faz uma distinção cartesiana da coisa e isso não é um fanatismo, muito pelo contrário. Poucos músicos conseguiram essa Sabedoria e é neles que me inspiro em minha Caminhada. Sendo assim, procuro sempre estar ouvindo, estudando o instrumento e lendo sobre o que diz respeito não só ao universo musical, mas aos valores mais profundos da vida. Agora, sendo mais específico, antes das apresentações se ouço algo, procuro ouvir o que esteja na idéia estética do que eu vou tocar para que eu possa me manter concentrado na linguagem.

- Dos lugares em que você já tenha tocado, qual mais te tocou?

Sem dúvida nenhuma: " o meu quarto! ", hehehe! Lá tem se dado muito do meu processo.

- Em duas palavras, o que é música para você?

Imanência e Transcendência.



Vídeos c/ Vitor Cabral:

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

InTrio - Composição em Projeção


Basta uma pequena "olhada" sobre os sons do grupo InTrio para se perceber a ressonância magnética de suas composições. Se delineia sobre o simples imponente trio, uma junção de sonoridade jazzística que pouco se vê no meio instrumental brasileiro. Neste primeiro cd do grupo , intitulado "Sábado de Manhã" (nome vindo dos "escassos" sábados de ensaio), a banda apresenta 11 composições autorais, assinadas pelo guitarrista Rafael Said e pelo baixista Bruno Barbosa.


Segundo o site do grupo: "O grupo InTrio se reuniu no início de 2008 em Ribeirão Preto, e é formado por Rafael Said, Bruno Barbosa e Pedro Fillipe. A sonoridade do grupo é marcada por uma fusão de vários segmentos do Jazz, tanto tradicional quanto moderno, não descartando também influências vindas do Funk e da Música Brasileira."


Vale destacar a bela composição "Sábado de Manhã" , que leva o nome do álbum.