É comum certas histórias serem contadas a partir do seu final. E essa não deverá ser diferente. Mas essa não tem final, pois é o que há de mais atual.
Quem não se encantou com figuras da nossa história baterística, como Cuca Teixeira gravando shows e CDs com Marina e Maria Rita, por exemplo? Quem já não se sentiu enlevado com a fina maneira de tocar de Edu Ribeiro em aparições junto à Yamandu Costa e Thiago do Espírito Santo? Quem já não sentiu os pêlos arrepiados do sovaco ao ouvir a orquestração particular de Ricardo Mosca junto ao Grupo Pau Brasil, reinventando Villa Lobos? Quem já não se sentiu arrebatado pela magia da envergadura sonora de Kiko Freitas junto a João Bosco? E o que dizer da união de influências de música brasileira, progressiva, na maneira única e com alta carga de emoção, no álbum Ritmismo de Christiano Rocha? Existe ainda a pegada rápida e funkeada de Vitor Cabral junto com Ed Motta, a fluidez de Jonatas Sansão, a beleza da conjunção atômica de bateras tocando em dupla em um disco de Michel Leme, e muitas outras mais…
Não parece a nós, que de um tempo pra cá a bateria brasileira mais do que nunca tem influenciado a maneira de nossos cantores e artistas comporem suas músicas?
Para mim, parece claro que tal notoriedade desses Bateristas-Músicos (com a tonalidade mais forte da palavra) é uma via de duas mãos, pois tanto a música deles está dando mais visibilidade à música de cantores populares, por exemplo, como a música de cantores e artistas em geral está dando mais visibilidade para esses bateristas antes considerados como meros músicos de apoio. Vida nova à música!
A história da nossa música instrumental e os baluartes da bateria
O Choro pode ser considerado parte da história da música instrumental do Brasil, mas os outros ritmos foram os mais “próximos” ao que podemos chamar de precursores do encaminhamento dos temas, na parte instrumental, melódica, harmônica, e estrutural.
A bossa nova em sua versão instrumental foi nomeada de “samba-jazz” no início da década de 60. Com esse novo “movimento”, as harmonias jazzísticas foram mescladas com os ritmos brasileiros, criando novas melodias e temas. De lá pra cá, não só o Brasil, mas o mundo ganhou uma nova e importante influência. O Jazz de fora bebeu direto da fonte brasileira. E os instrumentistas brasileiros, envolvidos com o Jazz, formaram grupos com repertório focados na bossa nova e no jazz instrumental. Grupos como Tamba Trio, Zimbo Trio, Milton Banana Trio, Jongo Trio, Bossa Três, Sambalanço, Quarteto Novo (de Hermeto Pascoal), e os Copa 5, lançaram as bases de uma importante parte da nossa música instrumental.
A história dos nossos maiores instrumentistas e bateristas passa pela história do samba e da bossa nova instrumental. Nomes como Luciano Perrone, Edison Machado e Milton Banana, puxaram o cordão umbilical da música instrumental brasileira. Cleber Almeida, outro grande músico da cena atual brasileira, diz sobre Luciano: “O ‘pai ’ da bateria brasileira é o Luciano Perrone, que criou uma maneira própria de tocar samba quando nem o kit do instrumento era muito definido.”
Milton Banana, dono de um estilo singular, trouxe sua batida com uma forma única para a bossa nova, impronunciável aqui em palavras.
Edison Machado recortou o samba e criou o chamado “Samba no Prato”, mudando a perspectiva sonora que antes ficava somente a cargo dos tambores e da caixa.
Qualquer tentativa de tentar resumir aqui, algo da história da música instrumental brasileira, vai frustrar qualquer leitor e músico… Pascoal Meirelles, Wilson das Neves, Paulinho Vieira, Erivelton Silva, Celso de Almeida, Tutty Moreno, Duduka da Fonseca, Carlos Ezequiel e muitos outros, fizeram e fazem parte dessa história.
Mas vamos esboçar uma particular e importante parte dessa narrativa histórica: Os grandes bateras que passaram pelos grupos de Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti;
Segundo a pesquisadora Marina Beraldo Bastos, “as obras de Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti foram muito importantes para a formação da música instrumental como um gênero pleno, com termos temáticos, estruturais e estilísticos relativamente estáveis.”
Os bateristas de Hermeto Pascoal
Para mergulharmos na história dos bateristas de Hermeto, naturalmente é preciso caminhar na bela construção musical e percussiva do próprio Hermeto, que desde cedo, obteve seus alicerces musicais na natureza que o cercava. Pelos sons dos pássaros cantando, e pela ordem natural da nascente das corredeiras das águas que passavam próximas a sua casa, poderíamos procurar as fontes da obra de Hermeto. Ele costumava passar horas tocando e tirando sons da água da lagoa. Os sons da natureza talvez o inspirassem não desde pequeno, como diz sua biografia, mas talvez desde sempre, pois as figuras humanas vêm e vão, e talvez ele já tenha sido outras partes da natureza, para incorporá-las com tanta facilidade em seu som. O empirismo agudo dedicado na sua forma de compor e de pensar música foi criando os rastros por onde seus futuros bateristas e percussionistas não poderiam desviar para não se perder dos caminhos belos e tortuosos de sua complexa arte musical. O caminho sempre foi o da riqueza rítmica e percussiva de suas composições.
A história da “Música Universal” de Hermeto Pascoal sempre obedeceu aos mesmos princípios: Liberdade, naturalidade, e inexistência de limites, calcando sempre seu som pelo conceito de Boa Música.
E é com esse conceito que foi dada a partida à jornada musical de Hermeto...
O primeiro disco oficial de Hermeto foi o LP “Hermeto”, gravado e lançado nos EUA, com a assinatura baterística de Airto Moreira.
Em 1965, no disco “Em Som Maior”, veio mais uma aparição de Airto Moreira na bateria e percussão. Foi com Airto que os primeiros passos em direção à criação do aclamado conjunto “Quarteto Novo” foram dados. O grupo já existia com o nome de “Trio Novo” antes da entrada de Hermeto. O primeiro e único disco do grupo se chamou “Quarteto Novo” e se deu em 1967 com participações de grandes nomes da música brasileira, como Heraldo do Monte. Foi nesse disco que apareceram as famosas composições de Hermeto, como “O Ovo” e “Canto Geral”. O Quarteto se consagrou por misturar ritmos nordestinos com arranjos jazzísticos, impulsionando a carreira de Airto Moreira como percussionista pelo mundo.
Com o disco “A Música Livre de Hermeto Paschoal”, de 1973, iniciou-se a trajetória de Nenê na bateria hermetiana. Gravou dois famosos discos, “Zabumbê-bum-a” e “Hermeto Pascoal ao vivo em Montreux”. Nenê, até hoje, é um dos bateristas mais celebrados da música brasileira, por sua identidade, talento, e por ter tocado em discos antológicos junto a artistas renomados como Milton Nascimento e Elis Regina.
Em 1982, iniciou-se a fase em que Márcio Bahia assumiu as baquetas, no álbum “Hermeto Pascoal e Grupo”. Trazendo sua autêntica vibração advinda do seu consistente toque, Márcio conseguiu dar um caráter extremamente preciso e suingado à música de Hermeto.
Os discos mais essenciais e importantes de Márcio Bahia com Hermeto foram “Hermeto Pascoal e Grupo” de 1982, “Só não toca quem não quer” de 1986, e “Festa dos Deuses” de 1991, que mostraram toda a fluência e dinâmica de Bahia.
Márcio Bahia toca e já tocou com grandes nomes do cenário musical, como: Hamilton de Holanda, Marco Pereira, Vittor Santos, Leny Andrade, Jhonny Alf, Marcos Valle, João Donato, Carlos Lira, Roberto Menescal e Wanda Sá, Joyce, Gilson Peranzetta, João Bosco, Maria Bethania, Leila Pinheiro, Eliane Elias, David Friedman, Thijs Van Leer (Focus), Baden Powell, Toquinho, Ednardo, Fagner, entre outros.
Ajurinã Zwarg completa a série de bateristas que passaram pelas formações de Hermeto. Atualmente, Ajurinã é um dos bateristas de Hermeto Pascoal e Grupo ao lado de Márcio Bahia, que foi um dos responsáveis pela sua iniciação musical na bateria.
Depoimento pessoal de Hermeto sobre seus bateristas
“Todos que trabalharam comigo contribuíram muito, com seu jeito pessoal e musical. Por isso, chamo minha música de Música Universal. Não comparo um ao outro, nem cito as características individuais de cada um… As gravações estão aí para cada um ouvir... Tenho um imenso carinho por todos os bateristas que tocaram e tocam comigo.”
Egberto Gismonti e sua turma percussiva
Egberto Gismonti tem uma afinidade muito especial com Hermeto: Multi-instrumentista, compositor e arranjador, ele é dono de uma sensibilidade apurada e vive a música com uma alta dose de experimentalismo, sempre.
E de tal afinidade, já seria normal se esperar que o vértice rítmico de seus grupos fosse comandado pelas baquetas de músicos que também passaram pelas formações de Hermeto.
Sobre Egberto, Nenê diz: “O Egberto, dono de uma sonoridade única no piano e de um modo de improvisar totalmente original, além de um senso rítmico muito apurado, me proporcionou uma execução na bateria expressamente aberta e polirrítmica. Dos discos que gravamos, gosto de todos, mas, o disco "Sanfona" é o meu preferido. Violão também é um instrumento em que ele é mestre.”
Além de “Sanfona”, outro grande disco da carreira de Egberto foi “Academia de Danças”, de 1974, com Robertinho Silva na bateria.
Egberto Gismonti, num show, confessou: “Não tenho medo da música”… Negação de um medo, que é sabido e enfrentado pelo músico, sendo acompanhado em sua filosofia por bateras como Robertinho, que desde cedo enfrentou o “medo”, e com sua batida forte, foi se tornando um dos mais requisitados percussionistas e bateristas da música brasileira, tocando com nomes como João Donato, Gilberto Gil, Toninho Horta, Gal Costa, João Bosco, e outros do exterior, como Wayne Shorter, Sarah Vaughan, George Duke, Moacyr Santos, Airto Moreira, Flora Purim, Egberto Gismonti, Ron Carter.
Robertinho ainda lançou, com participações de Egberto Gismonti e Raul de Souza, seu primeiro disco solo em 1981, “Música Brasileira Popular Contemporânea”. Ele, atualmente, está voltado à carreira solo e à pesquisa dos ritmos folclóricos do Brasil.
Colaboraram ainda em discos de Egberto Gismonti o percussionista Naná Vasconcelos (“Dança das Cabeças” e “Duas Vozes”), Zé Eduardo Nazario (“Nó Caipira”), e Airto Moreira.
Cabe finalizar aqui, usando o exemplo de Gismonti e seus bateristas, que a música e a bateria instrumental brasileira estão no ápice de suas formas, se orientando cada vez mais para estruturas complexas, num universo em expansão sonora de texturas e dialetos musicais.
O que se vê na música instrumental brasileira hoje é de uma rara e peculiar forma de expressão. Usando de todos os nossos atributos rítmicos e musicais, os bateristas instrumentais dessa geração influenciam cada vez mais a maneira de se produzir música no país. Estão cada vez mais estendendo seus “campos de atuação”, saindo do mundo instrumental e imantando o campo da música popular, junto a cantores e artistas renomados. Na verdade, isso não é nenhuma novidade para grandes bateristas, que no passado também acompanharam grandes artistas, mas hoje eles estão perdendo o status de “fundo de palco”, e deixando de ser apenas vislumbres de focos alheios, alcançando assim maior evidência, fato fundamental para a vitalidade da boa música.
Quem não se encantou com figuras da nossa história baterística, como Cuca Teixeira gravando shows e CDs com Marina e Maria Rita, por exemplo? Quem já não se sentiu enlevado com a fina maneira de tocar de Edu Ribeiro em aparições junto à Yamandu Costa e Thiago do Espírito Santo? Quem já não sentiu os pêlos arrepiados do sovaco ao ouvir a orquestração particular de Ricardo Mosca junto ao Grupo Pau Brasil, reinventando Villa Lobos? Quem já não se sentiu arrebatado pela magia da envergadura sonora de Kiko Freitas junto a João Bosco? E o que dizer da união de influências de música brasileira, progressiva, na maneira única e com alta carga de emoção, no álbum Ritmismo de Christiano Rocha? Existe ainda a pegada rápida e funkeada de Vitor Cabral junto com Ed Motta, a fluidez de Jonatas Sansão, a beleza da conjunção atômica de bateras tocando em dupla em um disco de Michel Leme, e muitas outras mais…
Não parece a nós, que de um tempo pra cá a bateria brasileira mais do que nunca tem influenciado a maneira de nossos cantores e artistas comporem suas músicas?
Para mim, parece claro que tal notoriedade desses Bateristas-Músicos (com a tonalidade mais forte da palavra) é uma via de duas mãos, pois tanto a música deles está dando mais visibilidade à música de cantores populares, por exemplo, como a música de cantores e artistas em geral está dando mais visibilidade para esses bateristas antes considerados como meros músicos de apoio. Vida nova à música!
A história da nossa música instrumental e os baluartes da bateria
Não é novidade para ninguém que a história da música instrumental brasileira passa principalmente pela conjunção da bossa nova, do samba e do jazz, somados aos ritmos marcantes dos folclores regionais das mais longínquas partes do país.
O Choro pode ser considerado parte da história da música instrumental do Brasil, mas os outros ritmos foram os mais “próximos” ao que podemos chamar de precursores do encaminhamento dos temas, na parte instrumental, melódica, harmônica, e estrutural.
A bossa nova em sua versão instrumental foi nomeada de “samba-jazz” no início da década de 60. Com esse novo “movimento”, as harmonias jazzísticas foram mescladas com os ritmos brasileiros, criando novas melodias e temas. De lá pra cá, não só o Brasil, mas o mundo ganhou uma nova e importante influência. O Jazz de fora bebeu direto da fonte brasileira. E os instrumentistas brasileiros, envolvidos com o Jazz, formaram grupos com repertório focados na bossa nova e no jazz instrumental. Grupos como Tamba Trio, Zimbo Trio, Milton Banana Trio, Jongo Trio, Bossa Três, Sambalanço, Quarteto Novo (de Hermeto Pascoal), e os Copa 5, lançaram as bases de uma importante parte da nossa música instrumental.
Outro importante exemplo da música brasileira é a Banda Mantiqueira. Nelson Ayres nos dá o seu testemunho sobre ela:
“Os arranjos e as interpretações usam todas as técnicas da história das big bands, mas tem os pés firmemente fincados nos coretos do interior, onde muitos dos músicos tocaram em público pela primeira vez. E cada solista abandona o caminho fácil de ser apenas mais um imitador dos grandes jazzistas para procurar sua própria verdade”.
Quando se pensa em música instrumental, se pensa em Improvisação. E criar e compor a música no momento em que ela acontece é privilégio de poucos instrumentistas.
Quando se pensa em música instrumental, se pensa em Improvisação. E criar e compor a música no momento em que ela acontece é privilégio de poucos instrumentistas.
A história dos nossos maiores instrumentistas e bateristas passa pela história do samba e da bossa nova instrumental. Nomes como Luciano Perrone, Edison Machado e Milton Banana, puxaram o cordão umbilical da música instrumental brasileira. Cleber Almeida, outro grande músico da cena atual brasileira, diz sobre Luciano: “O ‘pai ’ da bateria brasileira é o Luciano Perrone, que criou uma maneira própria de tocar samba quando nem o kit do instrumento era muito definido.”
Milton Banana, dono de um estilo singular, trouxe sua batida com uma forma única para a bossa nova, impronunciável aqui em palavras.
Edison Machado recortou o samba e criou o chamado “Samba no Prato”, mudando a perspectiva sonora que antes ficava somente a cargo dos tambores e da caixa.
Qualquer tentativa de tentar resumir aqui, algo da história da música instrumental brasileira, vai frustrar qualquer leitor e músico… Pascoal Meirelles, Wilson das Neves, Paulinho Vieira, Erivelton Silva, Celso de Almeida, Tutty Moreno, Duduka da Fonseca, Carlos Ezequiel e muitos outros, fizeram e fazem parte dessa história.
Mas vamos esboçar uma particular e importante parte dessa narrativa histórica: Os grandes bateras que passaram pelos grupos de Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti;
Segundo a pesquisadora Marina Beraldo Bastos, “as obras de Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti foram muito importantes para a formação da música instrumental como um gênero pleno, com termos temáticos, estruturais e estilísticos relativamente estáveis.”
Os bateristas de Hermeto Pascoal
Para mergulharmos na história dos bateristas de Hermeto, naturalmente é preciso caminhar na bela construção musical e percussiva do próprio Hermeto, que desde cedo, obteve seus alicerces musicais na natureza que o cercava. Pelos sons dos pássaros cantando, e pela ordem natural da nascente das corredeiras das águas que passavam próximas a sua casa, poderíamos procurar as fontes da obra de Hermeto. Ele costumava passar horas tocando e tirando sons da água da lagoa. Os sons da natureza talvez o inspirassem não desde pequeno, como diz sua biografia, mas talvez desde sempre, pois as figuras humanas vêm e vão, e talvez ele já tenha sido outras partes da natureza, para incorporá-las com tanta facilidade em seu som. O empirismo agudo dedicado na sua forma de compor e de pensar música foi criando os rastros por onde seus futuros bateristas e percussionistas não poderiam desviar para não se perder dos caminhos belos e tortuosos de sua complexa arte musical. O caminho sempre foi o da riqueza rítmica e percussiva de suas composições.
A história da “Música Universal” de Hermeto Pascoal sempre obedeceu aos mesmos princípios: Liberdade, naturalidade, e inexistência de limites, calcando sempre seu som pelo conceito de Boa Música.
E é com esse conceito que foi dada a partida à jornada musical de Hermeto...
O primeiro disco oficial de Hermeto foi o LP “Hermeto”, gravado e lançado nos EUA, com a assinatura baterística de Airto Moreira.
Em 1965, no disco “Em Som Maior”, veio mais uma aparição de Airto Moreira na bateria e percussão. Foi com Airto que os primeiros passos em direção à criação do aclamado conjunto “Quarteto Novo” foram dados. O grupo já existia com o nome de “Trio Novo” antes da entrada de Hermeto. O primeiro e único disco do grupo se chamou “Quarteto Novo” e se deu em 1967 com participações de grandes nomes da música brasileira, como Heraldo do Monte. Foi nesse disco que apareceram as famosas composições de Hermeto, como “O Ovo” e “Canto Geral”. O Quarteto se consagrou por misturar ritmos nordestinos com arranjos jazzísticos, impulsionando a carreira de Airto Moreira como percussionista pelo mundo.
Com o disco “A Música Livre de Hermeto Paschoal”, de 1973, iniciou-se a trajetória de Nenê na bateria hermetiana. Gravou dois famosos discos, “Zabumbê-bum-a” e “Hermeto Pascoal ao vivo em Montreux”. Nenê, até hoje, é um dos bateristas mais celebrados da música brasileira, por sua identidade, talento, e por ter tocado em discos antológicos junto a artistas renomados como Milton Nascimento e Elis Regina.
Nenê dá seu depoimento sobre o que era tocar com Hermeto: “Para mim, foi superimportante ter participado da vida musical deste excepcional músico. O Hermeto Pascoal foi quem me mostrou os ritmos brasileiros, o que me foi de grande valia. Dos discos que gravei com ele, três deles, 'A música livre de Hermeto Paschoal', o primeiro do Grupo, 'Zá-Bum-Be-Bum-Á' e "Live in Montreux", considero de suma importância para minha carreira. O Hermeto foi um dos meus mestres.”
Zé Eduardo Nazario foi outro importantíssimo baterista brasileiro, que não por acaso, passou pela “escola” de Hermeto. Fez sua estreia no grupo em 1973 e permaneceu até 1977, tocando bateria e percussão e fazendo apresentações memoráveis nesse período. Participou com Hermeto no Festival Abertura da Globo em 1975, onde a composição "O Porco na Festa" obteve o prêmio de melhor arranjo do Festival. Nesse arranjo, Hermeto escreveu uma introdução especialmente para a performance de Zé Eduardo Nazario na então inédita "barraca de percussão", de criação de Zé e mostrada pela primeira vez na televisão brasileira. Zé Nazario comenta sobre seu percurso com o mestre: "Toquei bateria e percussão com o Hermeto num momento muito especial da nossa história... Foi um grupo que quebrou barreiras até então intransponíveis no que diz respeito à criatividade, inovação, energia e coragem de mostrar ao público um novo caminho para o músico e a música brasileira e mundial, que influenciou a todos, tanto aos mais experientes quanto aos mais jovens, e aos que vieram depois."
Zé também participou do disco "Imira, Tayra, Ipy, Taiguara", onde tocou percussão e bateria. Nos anos pós-hermeto, Zé trabalhou também com Milton Nascimento, John McLaughlin e Joe Zawinul.
Os anos 80 começaram com Alfredo Dias Gomes na bateria do disco “Cérebro Magnético”.
Os anos 80 começaram com Alfredo Dias Gomes na bateria do disco “Cérebro Magnético”.
Em 1982, iniciou-se a fase em que Márcio Bahia assumiu as baquetas, no álbum “Hermeto Pascoal e Grupo”. Trazendo sua autêntica vibração advinda do seu consistente toque, Márcio conseguiu dar um caráter extremamente preciso e suingado à música de Hermeto.
Os discos mais essenciais e importantes de Márcio Bahia com Hermeto foram “Hermeto Pascoal e Grupo” de 1982, “Só não toca quem não quer” de 1986, e “Festa dos Deuses” de 1991, que mostraram toda a fluência e dinâmica de Bahia.
Márcio Bahia toca e já tocou com grandes nomes do cenário musical, como: Hamilton de Holanda, Marco Pereira, Vittor Santos, Leny Andrade, Jhonny Alf, Marcos Valle, João Donato, Carlos Lira, Roberto Menescal e Wanda Sá, Joyce, Gilson Peranzetta, João Bosco, Maria Bethania, Leila Pinheiro, Eliane Elias, David Friedman, Thijs Van Leer (Focus), Baden Powell, Toquinho, Ednardo, Fagner, entre outros.
Ajurinã Zwarg completa a série de bateristas que passaram pelas formações de Hermeto. Atualmente, Ajurinã é um dos bateristas de Hermeto Pascoal e Grupo ao lado de Márcio Bahia, que foi um dos responsáveis pela sua iniciação musical na bateria.
Depoimento pessoal de Hermeto sobre seus bateristas
De forma objetiva, e não por isso menos passional, Hermeto comenta sobre todos os bateristas que passaram por sua vida:
“Todos que trabalharam comigo contribuíram muito, com seu jeito pessoal e musical. Por isso, chamo minha música de Música Universal. Não comparo um ao outro, nem cito as características individuais de cada um… As gravações estão aí para cada um ouvir... Tenho um imenso carinho por todos os bateristas que tocaram e tocam comigo.”
Egberto Gismonti e sua turma percussiva
Egberto Gismonti tem uma afinidade muito especial com Hermeto: Multi-instrumentista, compositor e arranjador, ele é dono de uma sensibilidade apurada e vive a música com uma alta dose de experimentalismo, sempre.
E de tal afinidade, já seria normal se esperar que o vértice rítmico de seus grupos fosse comandado pelas baquetas de músicos que também passaram pelas formações de Hermeto.
Cabe destacar aqui no histórico das formações musicais e álbuns de Gismonti, o disco “Sanfona”, com Nenê na batera.
Sobre Egberto, Nenê diz: “O Egberto, dono de uma sonoridade única no piano e de um modo de improvisar totalmente original, além de um senso rítmico muito apurado, me proporcionou uma execução na bateria expressamente aberta e polirrítmica. Dos discos que gravamos, gosto de todos, mas, o disco "Sanfona" é o meu preferido. Violão também é um instrumento em que ele é mestre.”
Além de “Sanfona”, outro grande disco da carreira de Egberto foi “Academia de Danças”, de 1974, com Robertinho Silva na bateria.
Egberto Gismonti, num show, confessou: “Não tenho medo da música”… Negação de um medo, que é sabido e enfrentado pelo músico, sendo acompanhado em sua filosofia por bateras como Robertinho, que desde cedo enfrentou o “medo”, e com sua batida forte, foi se tornando um dos mais requisitados percussionistas e bateristas da música brasileira, tocando com nomes como João Donato, Gilberto Gil, Toninho Horta, Gal Costa, João Bosco, e outros do exterior, como Wayne Shorter, Sarah Vaughan, George Duke, Moacyr Santos, Airto Moreira, Flora Purim, Egberto Gismonti, Ron Carter.
Robertinho ainda lançou, com participações de Egberto Gismonti e Raul de Souza, seu primeiro disco solo em 1981, “Música Brasileira Popular Contemporânea”. Ele, atualmente, está voltado à carreira solo e à pesquisa dos ritmos folclóricos do Brasil.
Colaboraram ainda em discos de Egberto Gismonti o percussionista Naná Vasconcelos (“Dança das Cabeças” e “Duas Vozes”), Zé Eduardo Nazario (“Nó Caipira”), e Airto Moreira.
Cabe finalizar aqui, usando o exemplo de Gismonti e seus bateristas, que a música e a bateria instrumental brasileira estão no ápice de suas formas, se orientando cada vez mais para estruturas complexas, num universo em expansão sonora de texturas e dialetos musicais.
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por caio garrido
Parte desta matéria foi incluída e publicada na edição de março/2011 da Revista Modern Drummer Brasil
Um comentário:
Grande Caio,
excelente resenha, que traça um panorama muito abrangente da história da bateria brasileira.
Publiquei um post sobre o Edson Machado lá no jazzbarzinho.
Abração!
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