quinta-feira, 11 de junho de 2009

Marcos Paiva – Samba no Prato


Música brasileira de primeira qualidade. Essa é a primeira e contínua impressão ao se ouvir as músicas do projeto intitulado “Meu Samba no Prato”, realizado e idealizado pelo baixista, compositor, arranjador e produtor, Marcos Paiva.
É raro um músico ao conceber um álbum, ou que tenha como grande influência um instrumentista de outra especialidade. Foi o caso de Marcos Paiva, baixista que homenageou o baterista Edison Machado através deste projeto de show e futuro álbum.


Abaixo, alguns tons da conversa com o contrabaixista, onde Marcos Paiva fala um pouco sobre sua relação com a música de Edison Machado e o projeto-homenagem do cd :


Vou começar falando de um álbum muito importante para a música brasileira. “Edison Machado é Samba Novo” que para mim continua sendo o álbum de maior referência da discografia instrumental brasileira e um álbum que reúne importantes músicos como o maestro Moacir Santos, o arranjador e clarinetista Paulo Moura, J.T Meirelles que também é um grande arranjador e formador da linguagem do “sambajazz”, o fabuloso trombonista Raul de Souza além de Maciel (trombone de vara), Pedro Paulo (trompete), Tenorio Junior (virtuoso pianista que sumiu na Argentina na época dos golpes militares) e o grande Tião Neto (baixista “referência” da bossa nova e que depois tocou por muitos anos com Tom Jobim). Além de uma energia incrível e de solos (embora curtos) memoráveis, este disco tem arranjos muito inspirados e ao mesmo tempo pensados exatamente pra o líder do grupo. O grupo soa muito unido, muito junto. Respirando e pulsando no mesmo tom.

Edison ficou conhecido aqui no Brasil e até hoje é sua maior, digamos, qualidade, o fato de “ter inventado” a batida de samba utilizando o prato. O que pra nós hoje é lógico, na década de 60 (talvez final de 50) ainda não era. E o fato de ele ter começado a conduzir o samba no prato e não nos tambores (alguns chamavam de cruzadão, imitando a percussão como se era usado), criou uma nova perspectiva sonora que mudou para sempre a forma de se conduzir na bateria. Confesso que isto, que para a maioria das pessoas é o mais importante nele, para mim é só um pequeno pedaço desse grande músico.

Numa época em que baterista era um “quase não músico”, ou apenas o ritmista do grupo, Edison teve uma capacidade única (e artistica) de liderança ao lançar seus próprios trabalhos solos. Ao liderar seus grupos, criou uma forma de tocar com tanta energia e personalidade que até hoje é difícil de ver alguém superá-lo. Não é tocar rápido e não passa pela técnica, passa ao meu ver pela capacidade que poucos músicos conseguem obter na sua trajetória musical, a personalidade. Quando você ouve um disco, basta 5 compassos para saber se é ele tocando ou não. E isso é muito, muito difícil de se conseguir.

A idéia de fazer esse Tributo veio de muitas conversas com amigos e músicos. Sempre reclamei que no Brasil, a linha evolutiva na música instrumental sempre foi quebrada. Começava um negócio legal, e daí parava e começava outro com novos outros músicos que negavam o que estava rolando e partiam para algo totalmente novo (ou em 99% influenciados por algo de fora). Não tenho nenhum preconceito com influências externas seja de onde vier, mas a mim me incomodava e incomoda o fato da falta de continuidade, de negação. Sempre vi em vários países e principalmente nos EUA os tributos e aí pensei, por que não fazer um?? Quando fechei a idéia de fazer um tributo na linha evolutiva do que eu já estava fazendo, pensei na minha maior referência (neste disco, do Edison) e na obra do maestro Moacir Santos. Como este disco também tinha o Moacir e tantos músicos de referência, falei “vou fazer pra ele”.

Daí, veio a segunda questão. Como homenagear e não tocar como eles? Com o tempo amadureci a idéia e inspirei as minhas composições nas músicas do disco. Cada música que criei está completamente ligada à uma música no disco mas sob minha perspectiva sonora. Está sendo ao meu ver, uma forma de também contribuir para a divulgação deste disco nos nossos dias. O baterista do meu grupo, Daniel de Paula, eu o considero o “Edison Machado” dos dias de hoje (rsrs), não pelo fato de ele tocar parecido com o Edison mas pelo fato de ele ter tanta personalidade que ou você ama ou odeia. (O Edison era exatamente assim, muitos amavam e muitos odiavam). Depois chamei os outros amigos que gravaram o meu primeiro (Cassio Ferreira- sax alto, Jorginho Neto- trombone, Edinho Santanna- piano) e só mudei o trompetista, trocando o Rubinho Antunes pelo Daniel Dalcantara que é um músico totalmente inspirado no sambajazz.

Caio, para fechar pois este assunto que daria ainda muito pano pra manga, para mim o que mais me inpressiona nele é sua personalidade, capacidade de liderança e sonoridade (arranjos e energia pura).

Músicas do projeto e sites:
http://www.marcospaiva.com/epk/sambanoprato/
http://www.marcospaiva.com
http://www.myspace.com/marcospaiva
Para informações e downloads de Edison Machado: